Em seu livro Saberes gramaticais na escola, (In.: Ensino de gramática: descrição e uso [VIEIRA,
Silvia R; BRANDÃO, Silvia F.; São Paulo: Contexto, 2007, pp. 31-54]), o
professor Afranio Gonçalves Barbosa, doutor em Letras (Letras Vernáculas –
Língua Portuguesa), aborda a questão do que vai mal no nível básico do ensino
da língua portuguesa.
Professor do Departamento de
Letras Vernáculas da UFRJ desde abril de 1994, com sete projetos de pesquisa
concluídos e três em andamento, e uma produção intelectual de 123 obras, 25 das
quais livros, na área de língua portuguesa, o autor se vale de sua experiência
prática e conhecimento teórico para questionar o modelo de ensino da gramática
de língua portuguesa adotado nas escolas brasileiras.
A pergunta “certo, ou errado?”, em termos
gramaticais, parece ser o pivô da discussão. Essa é a pergunta com que se
deparam os professores de formação básica em língua portuguesa, e para a qual
têm pouco preparo a fim de dar uma resposta satisfatória. Além disso, o autor
expõe a fragilidade argumentativa dos chamados consultórios gramaticais em suas
afirmações taxativas sobre formas e usos da língua considerados ‘errados’.
O objetivo do autor foi
examinar de modo crítico o quadro existente no campo do ensino da gramática na
escola e apresentar alternativas possíveis para tratar do problema. Seu método
de análise da questão dos saberes gramaticais na escola utiliza como exemplo o
tópico gramatical formas nominais do
verbo, e é apresentado de forma esquemática, que pode ser aplicada a
qualquer questão de correção gramatical.
Segundo o autor, o
profissional de Letras precisa deter pelo menos três saberes, a fim de poder
lidar com o desafio de ensinar a gramática na escola, diante das crises social,
científica e do magistério. São eles: (1) O que dizem os falantes, a norma
culta local; (2) o que diz a tradição gramatical; e (3) o que dizem as
pesquisas linguísticas. Uma vez detentor desses saberes, o professor saberá que
certo e errado não são respostas absolutas, mas dependem do contexto de fala em
que as formas são empregadas. Em grande parte das vezes, a melhor resposta para
questões do tipo “certo ou errado?” deveria ser: “nem certo, nem errado, mas
está inadequado para uso fora da comunidade”, argumenta o autor.
Em conclusão, o texto afirma
que o profissional de Letras deve ser capaz de ajudar o aluno a desenvolver a habilidade
de ajustar seu registro de fala de acordo com a situação discursiva. Expresso pelo
dito popular, “cada lugar tem seu fuso,
cada povo tem seu uso”.
Num texto claro, acessível,
coerente e consistente, o professor Afranio Barbosa consegue chamar a atenção
para uma questão premente no ensino da língua portuguesa no Brasil. Citando o
escritor Ataliba de Castilho, o autor toca na questão da crise do magistério,
que pode ser vista, entre outras coisas, na desvalorização do professor de
ensino básico, em especial. A experiência de quase 20 anos no ensino de Letras
Vernáculas atribui credibilidade aos argumentos do professor.
A soma das vozes que se
erguem, para promover o saneamento do ensino da gramática na escola, ainda não
é suficientemente forte para vencer os preconceitos enraizados na cultura
nacional que são, por sua vez, regados e nutridos por uma parcela significativa
da mídia televisiva, particularmente. Nesse cenário, Saberes gramaticais na escola, do professor Afranio Barbosa, contribui
para a evolução do ensino de duas formas básicas. Primeiro, no apontamento do
que vai mal nessa área. Depois, na indicação de que a formação adequada de
novos profissionais de Letras pode ser o caminho mais curto e menos sinuoso
para se chegar ao ensino da língua portuguesa como ela é, não como ela foi sete
séculos atrás.
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Como se deve ensinar Língua Portuguesa para os alunos de hoje? Já é possível enfrentar o grande desafio que se impôs quando uma grande massa de brasileiros trouxe às escolas seus falares, suas gramáticas particulares. Ao se expor uma diversidade linguística que, no ambiente escolar e nos livros didáticos, se fingia não existir, se tornou urgente uma mudança radical nas práticas descritivas e pedagógicas. Este livro resulta de crescente interesse em atender às exigências dessa mudança e em assumir uma posição objetiva ante a realidade escolar.
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