"My experience is that as soon as people are old enough to know better, they don't know anything at all."
As palavras acima são atribuídas a Oscar Wilde (1854-1900) e transmitem a ideia básica de que modéstia e juventude nem sempre andam de mãos dadas. O passar do tempo é condição necessária para se conhecer melhor o mundo à nossa volta. Quando o tempo passa, arrasta consigo aquela sensação de poder sobre o conhecimento e deixa em seu rastro a certeza de que se sabe absolutamente nada.
Essa descoberta da própria ignorância parece ocorrer de modo paulatino e uniforme. Vez por outra, porém, um ‘salto quântico’ golpeia uma faceta da vaidade do intelecto, destrói pilares do preconcebido e nos faz crescer.
Foi o que me aconteceu hoje. Era uma instigante e envolvente aula sobre linguística. Os termos técnicos e os detalhes menos relevantes ficam fora, pois não passo de um leigo curioso e não tenciono dar outra impressão a você.
O que estava em discussão eram as características peculiares ao jeito de falar de pessoas da mesma língua que residem em determinado espaço. Dialeto.
Em primeiro lugar, não é difícil aceitar diferentes sotaques. Até gostamos muito dessa diversidade alegre. Segundo, é curioso o uso de palavras distintas para se referir ao mesmo objeto.
Por exemplo, minha esposa foi barrada na porta giratória de uma agência bancária no Rio de Janeiro e o guarda gentilmente sugeria “o chapéu, senhora, o chapéu”. “Mas o chapéu é de palha” ela redarguia. Não fazia sentido algum para uma pernambucana, até que alguém que transitava entre os dois mundos acudiu e traduziu: era a sombrinha! Caso passado, boas risadas.Até aí, tudo bem, ótimo! No entanto, o terceiro aspecto considerado causou o que bem poderia ser descrito como guerra interna intensa. Um dos fatores da composição do dialeto é o uso que as pessoas fazem, ou deixam de fazer, da chamada norma culta.
Não se tratava de uma defesa de “Os menino foi”, em detrimento de “Os meninos foram”. Também não era um ataque à norma culta. Era um bombardeio contra os pilares do preconceito de que não basta transmitir ideias, objetivo primário da linguagem – para este leigo, repito – mas que é necessário fazê-lo de acordo com o que é aceito como correto pela norma culta.
De fato, não há nenhuma superioridade de uma forma de expressão sobre outra se ambas forem eficazes em transmitir o mesmo pensamento. É só preconceito o que nos faz franzir a testa e torcer o nariz quando ouvimos o ambulante dizer: ‘água é dois real”.
Naturalmente, há vantagens em se falar e escrever de acordo com a norma culta, assim como há desvantagens em não se fazer isso. Parece, entretanto, que a raiz da diferença está fincada noutro campo. Pior ainda, parece não existir uma solução viável para esse problema. Mas há o caminho da tolerância, do respeito mútuo, que o tempo aos poucos há de mostrar para quem quiser ver. Eu quero!
À medida que nossa visão do todo aumenta, diminui nosso senso de detenção do conhecimento. Chegamos a compreender que ‘não sabemos absolutamente nada’.
WV
Sábias palavras de Oscar Wild.
ResponderExcluirHá muito tempo, durante um período adverso, uma amiga inglesa que na época já tinha quase 80 anos, me segurou pelo braço compartilhou comigo uma experiência semelhante pela qual tinha passado e concluiu: 'depois disso eu amadureci'.
Fiquei em choque. Uma pessoa que eu tanto admirava pela sabedoria admitia que, mesmo aos oitenta anos, ainda amadurecia com as lições que a jornada chamada vida lhe ensinava. Pensei eu, eu que mal tinha chegado aos trinta anos, quanto ainda tinha que aprender?
Entre outras coisas aprendi que só aprendemos quando nos despimos dos preconceitos, da altivez inerente a cada ser. Morei no interior da Paraíba e me doía nos ouvidos ouvir aquelas pessoas falando "duda" em lugar de dúvida, chamando pão de "brote", e outras palavras que para mim beiravam a ignorância.
Foi preciso o espaço de mais de uma década para, numas férias andando por Madri, entender que a duda paraibana era herança dos espanhóis. Numa confeitaria na Suiça prestei atenção quando a amiga pediu pão em Alemão; era o brote que eu ouvia na Paraíba.
Foi só puxar um pouco pela memória e lembrar que os holandeses no Nordeste estiveram, muitos se embrenharam pelo agreste e não voltaram para a Europa depois da Batalha dos Guararapes. Então pensei: eu preciso amadurecer.
Antes de deduzir que os outros são ignorantes e portanto de alguma forma inferiores, busquemos as raízes do jeito de falar. É possível descobrir que há muito mais de norma culta escondido entre jeitos e sotaques do que no pedantismo daqueles que para parececem cultos, trocam palavras simples por termos estrangeiros, geralmente em Inglês, como se o nosso lindo idioma carecesse de palavras.
Bem isso mesmo, Nani.
ResponderExcluirParece que mesmo achar que não tem preconceito já é preconceito em si.
Obrigado pelo inspirador comentário e por partilhar a experiência.