31 de mar. de 2013

Pra que tanta pressa?


Domingo de manhã, Linha Amarela, trânsito calmo, fluxo em movimento a ¾ da velocidade máxima da via. Do nada aparece uma motoneta comum tripulada por um alfaiate do asfalto. Improvável que estivesse acima do limite de velocidade da via; evidente que os limites do senso comum haviam sido ultrapassados havia muito pelo zigue-zagueante condutor.

Pode até ser que para a pressa houvesse alguma explicação. Pessoas vivem caindo do décimo terceiro andar de prédios da Zona Norte. Quem sabe ele não levasse consigo um colchão de ar de bolso para amortecer o impacto do vivente já em queda livre?

Parece que estamos tão habituados ao corre-corre que mal notamos quando estamos acelerados demais em necessidade de menos. Nem paramos para pensar que nossa pressa pode nos levar cedo demais para onde não queremos: um leito de hospital, uma cadeira de rodas ou, pior ainda, a prisão perpétua sem grades e sem carcereiro. No afã de chegar a lugar nenhum, a gente se esquece da gente que cruza o caminho, gente como nós, como nossos pais, como nossos filhos.

Um homem de 35 anos entra num cassino e aposta $ 23.652.000,00 para tentar ganhar apenas $ 5,00. Tolice! Tolice, não se discute. O curioso é que não pensamos assim quando apostamos muito mais do que apenas dinheiro.

Um homem de 35 anos, com expectativa de vida de 80, que sai desesperado para ganhar apenas 5 minutos numa missão e veículo comuns, faz aposta em tão desfavoráveis condições quanto nosso infeliz jogador. Ainda pior, vidas alheias podem se perder.

Nesse contexto, a palavra imprudência poderia ser perfeitamente substituída por burrice. 

WV

30 de mar. de 2013

Taciturno

Há muitas coisas que podem ser chamadas angustiantes. Fico a me perguntar se animais conhecem sensação que humanos chamam angústia. Tomara sejam mais felizes e saltitantes sem tal grilhão.

A mente transborda pensamentos desordenados e a angústia, causa ou resultado, manifesta presença veemente. Onde haveria um livro, há migalhas de caracteres que pouca ou nenhuma diferença fazem no vazio em que caem. 

Cascata de pensamentos em profusão que se derramam mas nunca tocam o chão, nunca criam raízes, nunca crescem; não florescem nem dão fruto. O que há de volátil na imagem que despenca, há de perene nas marcas que deixa ao cair em vão.

Ventos mudam de direção. Há bons ventos; há ventos hediondos. Incapazes quase sempre de identificar os bons e as oportunidades que trazem, absurdamente aptos a perceber que ventos ruins sopraram e destruiram sonhos, ou mudaram para sempre um rumo almejado. 

Há pesos nos pés que fazem pesar as pálpebras do vivente. Há angustiantes e causticantes ventos que o fazem querer não sê-lo. Há tempestade silenciosa destruindo castelos de sonhos distantes. Há sopros contrários, não se percebem os favoráveis. Não se percebem as tréguas da tempestade, brechas para a reconstrução de refúgio. Não se pode saber se elas realmente existiram ou foram apenas muitíssimo desejadas.

Caminhos percorridos em vão, calos nos pés sem razão. Vista embaçada pela névoa que não se esvai nem mesmo sob pressão dos ventos, nem mesmo com o Sol a pino que se não pode ver, mas que ainda oferece evidência de sua presença em noventa graus. 

E há também aquele ponteirinho intermitente e chato que aponta para todos os pontos num plano, mas sempre indica o mesmo caminho para uma moradia sombria e de longa duração. 

-WV

15 de mar. de 2013

Despejo

A palavra despejo é frequentemente associada com algo negativo. Experimentos são centros de despejos, despejam-se ideias; o que funcionar, ótimo; o que não, era apenas experimento. 

Grafia livre? Uma arena em que as palavras se cruzam livremente, sem briga, sem perda de pontos, sem penalidades, apenas ganhos que só os experimentos trazem. 

Há tanto material inflamável para ser lançado na fogueira do pensamento. Que suba a cortina de fumaça multicor, atóxica e que não arde nos olhos.